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VÍDEO: um mês depois, como estão as famílias atingidas pelas enchentes em Rosário do Sul

José Mauro Batista


Fotos: Renan Mattos
Casa que ficou quase toda submersa durante a enchente

Em janeiro deste ano, a chuva não deu trégua aos gaúchos. O excesso de água fez os rios transbordarem e invadirem cidades, causando enchentes. Na Região Central, Rosário do Sul foi a cidade mais atingida. Banhado pelos rios Ibicuí e Santa Maria, o município ainda tenta recuperar pelo menos parte do que perdeu.

A estimativa da prefeitura, com base nas informações do decreto de situação de emergência, é de que, somente na zona rural, os prejuízos tenham ultrapassado R$ 86,8 milhões, praticamente R$ 10 milhões a menos do que o orçamento municipal do ano passado.

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Até agora, segundo a prefeitura, a única ajuda governamental que chegou a Rosário foi a destinação de cestas básicas para os desabrigados que tiveram de ser acolhidos no ginásio de uma escola até que as águas baixassem. Assim como Rosário, outros municípios da região ainda aguardam por socorro dos governos estadual e federal. Enquanto isso, os moradores ribeirinhos vão tocando o barco e tentando recuperar o que perderam. 


AOS 98 ANOS, ROSALINA JÁ PERDEU AS CONTAS DE QUANTAS ENCHENTES ENFRENTOU
A vida dos ribeirinhos, moradores de áreas próximas ao Rio Santa Maria é sempre de sobressaltos em época de cheias. Embora já estejam acostumados com as intempéries e com os prejuízos por elas causados, os rosarienses sempre têm algum temor.

- Bah, meu filho. Nem sei quantas enchentes eu peguei aqui, já perdi até as contas. Não perdi nada desta vez, mas já teve época que a gente teve que sair de bote - diz Rosalina de Andradas, 98 anos, moradora da Vila Carmelo, uma de área de risco.


Foto: Renan Mattos (Diário)

Na enchente deste ano, Rosalina foi uma das 600 pessoas afetadas quando o rio transbordou e invadiu a cidade, entrando nas casas, destruindo pertences e alimentos. A quase centenária ribeirinha e outros moradores de áreas de riscos tiveram de ser retirados às pressas diante da invasão do Santa Maria, que fez das ruas uma extensão de seu leito.

Ela e outros moradores da Carmelo, assim como vizinhos da Vila Progresso, ficaram alojados na Escola Oliverio Thaddeo, que foi o lar de mais de 40 famílias ribeirinhas durante 10 dias. Rosalina apareceu na capa da edição do Diário de 18 de janeiro, quando começou uma campanha de arrecadação de roupas e alimentos para as vítimas da enchente.

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No ginásio da escola, as famílias receberam doações e cestas básicas enviadas pelo governo federal, via Defesa Civil do Estado. Essa foi a única ajuda oficial a Rosário do Sul até agora. Nascida na cidade, Rosalina passou toda a sua existência às margens do rio. Raras foram as vezes em que ela deixou a terra natal, como em algumas visitas que fez para os filhos "nas bandas de Santa Maria".

QUELCILENE E AS DUAS FILHAS FUGIRAM DA FÚRIA DO RIO 
Em um casebre de dois cômodos - sala e cozinha -, em uma rua de chão batido, moram a dona de casa Quelcilene da Silva Guedes, 25 anos, o marido, Darilei Nunes Figueira, 25, serviços gerais, e as duas filhas do casal, Tamara, 8 anos, e Sara, 4. Quelcilene é neta de Rosalina e, como a avó, nasceu e se criou na Vila Carmelo. Logo que a chuva chegou com força ao Rio Grande do Sul, no dia 13 de janeiro, veio o alerta para que as famílias ribeirinhas deixassem suas casas.


Foto: Renan Mattos (Diário)

No pátio de casa, Quelcilene cria 20 galinhas e cultiva uma horta com alface, rúcula e repolho para consumo familiar. Ela tem esperança de, um dia, conseguir uma casa melhor e longe do perigo das enchentes. No entanto, ela diz que algumas regiões cogitadas como novo endereço para as populações de área de risco são piores.

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- Aqui, a gente cria galinha, deixa a casa aberta e pode dormir em paz. Não adianta ir para uma vila em que não se possa viver com essa tranquilidade - explica a moradora, que teme mais a violência urbana do que a do rio quando enfurece.

AREEIROS FICAM SEM TRABALHO QUANDO CHOVE
Na região do principal ponto turístico de Rosário do Sul, os autônomos Jeferson Fabiano Guedes Teixeira, 38 anos, e Alexandre Pereira Siqueira, 31, conformam-se com as perdas que ocorrem toda vez que chove em excesso.

- A água subiu um metro, levou guarda-roupa, sofá. Tivemos que ir para a casa de parentes. Ainda bem que a gente ganha o que perde. Estamos sempre preparados para as enchentes - relata Teixeira.


Foto: Renan Mattos (Diário)

Mais que as perdas materiais, compensadas com as doações, a dupla lamenta, mesmo, é o tempo parado. Os dois são areeiros, autônomos que trabalham na extração e no carregamento de areia para empresas, e ficam sem trabalho quando chove.

- A gente ficou um mês parado. Aí, é brabo, porque chegam as contas e é preciso comprar comida - lamenta Jeferson.

Os areeiros ganham R$ 10 por caminhão carregado. Nos dias em que o trabalho rende, eles contam que chegam a faturar R$ 80. Quando chove e os caminhões não aparecem, a única alternativa é "se virar com as changas". Ou seja, prestar outros serviços, para sobreviver.

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